Turbantes, atabaque e uma discussão refinada sobre a consciência negra em Valinhos e no Brasil marcaram o pré-lançamento do livro Educação Antirracista: Infâncias, Resistência e Combate ao racismo.
O evento, que aconteceu na Câmara na última sexta, 5/11, contou com discursos de diversas personalidades negras da região de Campinas, dos autores do livro e de autoridades presentes. E ainda teve apresentação de membros dos grupos União Socidadão e Caxinguelê, que cantaram e tocaram canções de capoeira.
O plenário estava lotado, ocupado principalmente por cidadãos negros, muitos dos quais trajavam roupas de festa.
E não era para menos. Educação Antirracista é, segundo os organizadores, o primeiro livro de artigos a tratar da questão racial em Valinhos. Seus 18 artigos foram escritos a partir de slogans e desenhos elaborados por crianças e adolescentes abordando a questão racial.
Os materiais venceram o Concurso Selo Diversidade Cultural, que aconteceu em agosto de 2020 e teve a participação de 1080 alunos de 28 escolas de Valinhos e duas de Campinas. Durante o evento, banners expuseram o trabalho dos jovens.
O livro foi organizado pela pedagoga e dirigente escolar Solange Elizabeth Pereira da Silva, pela socióloga Claudia Garcia Costa e pela mestre em educação Ana Paula Galante.
No evento, Solange destacou que o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira ainda é raso nas escolas, embora uma lei federal de 2003 o torne obrigatório.
“A lei 10.639, apesar de existir, não é bem trabalhada dentro dos espaços escolares, porque falta formação para que os profissionais possam atuar”, destacou Solange. “Então por isso a relevância de hoje estarmos aqui numa casa do Legislativo, para a gente pensar que a diversidade precisa ser pauta do debate nesse espaço”.
Discursos emocionantes
Durante o evento, os autores dos artigos destacaram a importância da luta contra o preconceito. Solange, que já atuou como docente no curso de Pedagogia da Unicamp, destacou que o racismo ainda marca o cotidiano de milhões de brasileiros.
“O trabalho surge de uma dificuldade diária da população negra”, afirmou. “Ser negro todos os dias no Brasil é trabalhar sempre com adversidade, sempre com a dificuldade da representatividade”, afirmou.
O presidente da Câmara, vereador Franklin (PSDB), é autor de um dos artigos e destacou a importância do pré-lançamento acontecer no Legislativo.
“Aqui é a casa do povo e a casa do povo se alegra em receber pessoas em um compromisso tão grande, que é esse da diversidade”, discursou. “É com uma imensa alegria no coração que participo da noite de hoje, desse importante ato, que não apenas trata do pré-lançamento do livro (...), mas, sobretudo, nos chama para um posicionamento frente a uma temática tão atual”.
Angela Soligo, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, ressaltou que a violência contra o povo negro ainda é invisível para muita gente.
“Eu, assim como o conjunto da população brasileira, as pessoas brancas em especial, aprendemos a não olhar”, afirma. “Nossas ciências, nossa educação, não apenas não falam [sobre a discriminação racial]; elas conduzem nosso olhar para outros lugares e isso nos impede de ver o racismo”, afirmou.
Para Angela, o livro é oportuno no contexto atual, quando, na visão da pesquisadora, a ascensão de pessoas negras na sociedade causa reações violentas.
“A realidade das crianças negras nas escolas ainda é de sofrimento”, afirma. “Se o escravismo não foi uma obra de nós que estamos vivos hoje, o combate ao racismo é uma responsabilidade de todos nós, de toda uma sociedade. Não existe democracia no racismo”, arremata.
Presenças ilustres
Diversas autoridades e pessoas de influência estiveram presentes no evento. Além do presidente Franklin, marcaram presença os vereadores Mayr (Pode), Simone Bellini (Republicanos) e Marcelo Yoshida (PT), além do secretário de educação de Valinhos, Cleber Ricardo Magdalena.
Ainda estiveram presentes as seguintes personalidades: Andreia Marques, jornalista da Rede Record de Televisão; Josué Roupinha, jornalista e professor universitário; Edvaldo Alcântara Alves, o Tio Phill, líder comunitário do bairro Jd. São Bento; Lais Helena Antonio Dos Santos Aloise, primeira vereadora negra de Valinhos, vice-prefeita de 2017 a 2020; Marcos Lopes, administrador, consultor de negócios e colaborador no Concurso Selo Diversidade Cultural; Marcus Vinicius De Brito Coelho, representante Regional da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Campinas no Núcleo de Ação Educativa Descentralizada (NAED) Sudoeste; Mônica Aparecida Queiroz, Coordenadora do Programa Memória e Identidade na Promoção da Igualdade na Diversidade, de Campinas; Dr. Osvaldo Reiner de Souza, presidente da Associação Cultural Afro-Brasileira de Valinhos e Viviane Marinho Luiz, doutora em educação, membro da Associação Quilombo Ivaporunduva e articuladora do Coletivo Mulheres Quilombolas na luta.