Morre o vereador campineiro Biléo Soares

Depois de seis anos de luta contra um câncer, o vereador Biléo Soares não resistiu ao agravamento da doença e morreu nesta terça-feira, às 11h20, aos 52 anos, no hospital Centro Médico, em Campinas, após permanecer internado na Unidade de Terapia Intensiva. Apaixonado pela política, por Campinas e pela Ponte Preta, Biléo era considerado um dos mais éticos e combativos políticos de sua geração. Casado com Rita Soares por 17 anos, Biléo deixa três filhos – Gilberto, de 15 anos e as gêmeas Mariana e Giovana, de 13. O velório será realizado no Plenário da Câmara Municipal de Campinas a partir das 17 horas e o sepultamento vai ocorrer amanhã (07/12) às 10 horas, no Cemitério da Saudade. O cortejo seguirá a pé da Câmara para o Cemitério. O prefeito Demétrio Vilagra decretou luto oficial de três dias em Campinas em homenagem ao vereador.

Formado em Direito pela PUC, Gilberto Celestino Brasio nasceu em Campinas no dia oito de janeiro de 1952 e foi um dos fundadores do PSDB na cidade. Em três oportunidades foi presidente municipal do partido. Vereador entre os anos e 1993 e 1996, Biléo foi o primeiro presidente da Juventude Latino Americana pela Democracia (Julad) com sede no Instituto Latino Americano em São Paulo. Neste período atuou junto ao ex-governador André Franco Montoro na luta pela integração da América Latina. Também foi o primeiro coordenador da Juventude Estadual do PSDSB, eleito em 1989. Dois anos depois, assumiu o cargo de secretário parlamentar do então deputado federal Magalhães Teixeira.

Foi chefe de gabinete do deputado Carlos Sampaio tanto na Assembleia Legislativa de São Paulo quanto na Câmara dos Deputados. Biléo foi ainda gerente regional da Companhia de Seguros do Estado de São Paulo(Cosesp) e coordenador da Frente Parlamentarista em Campinas. Em 2008 foi eleito para mais um mandato de vereador. A morte de Biléo provocou profunda consternação entre os vereadores. No final da manhã da última sexta-feira, quando os médicos já haviam confirmado que o quadro era irreversível, o presidente da Câmara, Pedro Serafim, reuniu os vereadores para uma oração.

“Biléo é uma demonstração inequívoca de que se pode fazer política com ética e com honradez. Ele mostrou a toda população de Campinas e a todos os seus colegas de parlamento, que a verdadeira política é aquela que tem o objetivo primordial, o bem estar do povo e o respeito no trato da coisa pública”, disse o presidente. “Biléo foi um exemplo para toda uma geração de políticos. De espírito conciliador, foi firme no combate a corrupção e sempre intransigente na defesa dos mais necessitados”, disse o vice-presidente da Câmara, vereador Thiago Ferrari.

Durante a sessão da última segunda-feira, vários vereadores lembraram a trajetória de Biléo. Muitos disseram estar orando pela recuperação; outros afirmaram estar solidários com os familiares do vereadores pelas dificuldades enfrentadas nas últimas semanas. Biléo será substituído na Câmara pelo 1º suplente do PSDB, Gilberto Carlos Cardoso - o Vermelho.

 

O CÂNCER - O câncer foi diagnosticado em 2005 e, desde então, foram nada menos que 36 sessões de quimioterapia, 14 cirurgias, 250 exames e cinco meses de quimioterapia oral. Com altivez, lutou contra um câncer na uretra, outro no períneo, mais um no pulmão que levou ao processo de metástase para a cabeça, o fêmur e a escápula.

Desde setembro, Biléo vinha com uma agenda restrita. Estava proibido pelos médicos de acompanhar os jogos da Ponte, participar de reuniões políticas ou mesmo de ir ao teatro ou cinema. Os médicos só não conseguiram impedir que participasse as sessões da Câmara. Dizia que se sentia revigorado quando conseguia trabalhar; e debater da tribuna sobre os principais problemas da cidade e do País.

Nos últimos meses, já bastante debilitado pela doença, se locomovia em uma cadeira de rodas. Durante as sessões, lhe era permitido que usasse a palavra no Plenário, a partir da própria mesa de trabalho. Sua última participação em sessão ocorreu no dia nove de novembro, uma quarta-feira, quando discursou sentado do plenário e foi rodeado pelos colegas.

 

TRANSPARENTE

Biléo nunca tentou esconder a doença. Na tribuna, chegou a dizer que até nestas situações a pessoa precisa ser transparente. “Quando você não esconde a sua doença, e é transparente também na sua doença como você o é na vida pública, só coisas boas podem acontecer”, disse certa vez. Ele advertiu que a luta contra a doença não era uma tarefa fácil, porque além dos problemas físicos que provoca, ainda pode produzir efeitos psicológicos severos. “Essa é uma doença que solapa; é sorrateira, traiçoeira, virulenta, terrível e que, por vezes, te abala psicologicamente. Por tudo isso, é preciso ter estrutura; ter um exército que cerra fileiras e que assuma com você a luta pela cura”, afirmou o vereador. O vereador lembrou que, justamente por ser uma luta difícil, é preciso ter vontade de viver. "Não adianta ter fé se você não tem vontade de viver”, afirmou. Resignado, disse que sua doença poderia servir de exemplo para que as pessoas e as autoridades percebessem a necessidade de se fazer a prevenção. Por conta disso, foi um dos autores de uma lei que incentiva os homens a fazerem prevenção do câncer de próstata.

 

LEGISLADOR

Biléo é autor de mais de 80 projetos de lei – alguns dos mais importantes nesta sua segunda passagem pela Câmara, quando aprovou o projeto de combate ao bullying nas escolas, muito antes de acontecer a tragédia da escola de Realengo no Rio. É dele também o projeto que institui na rede pública, o programa da saúde do homem, o que identificava problemas oftalmológicos em crianças das escolas públicas. Gostava muito de usar a Tribuna e até poucos meses atrás contabilizava mais de 450 discursos proferidos. Em recente entrevista ao jornal jornal Correio Popular, disse que estava preparado para tudo.

“Se me perguntarem qual o meu grau de felicidade, eu vou dizer que sou o cara mais feliz do mundo. Sou reconhecido no meu trabalho como homem público e pela luta que estou travando pela cura, em busca de vida e pela mensagem para que outros sigam seus caminhos, sejam felizes. O que me move é o amor pela minha família e o amor muito grande que tenho por Campinas. Estou com as mãos limpas e, embora, graças a Deus, minha família tenha alguma posse, eu sustento minha família com meu salário. Mostro para meus filhos como é ser honesto, o que aprendi com meus pais e com Magalhães Teixeira (ex-prefeito de Campinas e que morreu nos anos 90). O dinheiro não é dos vereadores. Fomos eleitos para zelar pela cidade e somos pagos pelo dinheiro de milhares de contribuintes”, disse ele.

 

Texto e Foto: Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Campinas